Boate não fiscaliza consumo ilegal de bebidas alcoólicas
Como é de costume da boate, entrego a identidade às responsáveis pela entrada e saída de pessoas, para que elas possam entregar-me o cartão de entrada, que também serve para consumação dentro da boate. Observo ao meu lado, enquanto aguardo a finalização do processo de entrada, uma garota bonita! Loira, alta, usando um daqueles vestidos estilo “tubinhos”. Não deixei de pensar na dificuldade que aquela moça teve para entrar ali dentro. Parecia que estava “embrulhada” a vácuo. Sorri sozinho. Mas ela estava linda!
Outra coisa me chamou a atenção: uma menina pequena e também bonita. O topo da cabeça dela batia mais ou menos no ombro da linda loira. Observei que a pequena moça escrevia apressadamente em um papel no balcão da recepção. Olhei de canto para ver o que era aquilo. Era um termo de responsabilidade, onde ela se colocava como responsável da “garota do tubinho”. A menina mais baixa é mais velha do que a outra! Meus estereótipos...
Lembro que a boate tem um método peculiar para diferenciar os que têm menos de 18 anos. A organização disponibiliza um cartão da cor preta para os menores. Já os maiores de idade recebem um da cor branca. As duas recebem os cartões. A maior com o preto e a menor - ainda não acredito – com o branco.
No início da festa todos formam os grupinhos. Cada um com sua turma. Ninguém entra no grupo de ninguém no começo da balada. É como se fossem reuniões particulares dentro da boate. Se aproximar de alguma “roda” que não é a sua, é como pedir para ser crucificado com olhares mortíferos. Mas eles param no momento em que percebem que não, você não vai atrapalhar aquela reunião. .Alguns, ficam nos camarotes, com sofás, mesas de bebidas... Os outros com uma caipirinha na mão, ficam observando o que acontece nos camarotes. Meu caso e o dos meus amigos.
Instintivamente, vejo a bela loira e sua fiel escudeira indo ao bar. Elas pedem alguma coisa para o garçom. Ele solicita o cartão que lhe é entregue e trás duas doses de tequila, cercadas por limões cortados no formato de “meia lua”, juntamente com sal para aliviar o sabor forte da bebida.
Já com os copos nas mãos, as duas fazem um movimento pra cima e para baixo. Um tipo de ritual frequente nas rodas dos jovens que degustam a bebida. Após entornarem a dose, as caretas aparecem junto com o a balançadinha de mão próximas da boca. Os movimentos parecem com os de pessoas que mastigaram pimenta malagueta e algo as queima com tanta força que pode-se imaginar as bolas de água causadas por queimaduras de segundo graus na região dos lábios. Para aliviar lambem o sal que estava na palma da mão e chupam um limão que veio junto com as bebidas. O garçom ri daquela situação. Realmente muito engraçada.
Já no fim da noite, e após muitas outras doses de tequila, observo que a menina loira já está em um nível, digamos, alterado. Minhas companhias resolvem chegar perto, para se enturmarem. Aproveito a deixa e puxo conversa. Depois de um “papo” bacana e uma forçadinha de leve, descubro alguns detalhes da vida da linda loira. Educada. Linda, quer fazer medicina e tem 16 anos!
Isso. 16 anos. Claro que ela passaria despercebida. Com um corpo de mulher e salto de 15 cm (não, não sei se é esse o tamanho, mas era alto), pensaria que ela já era uma profissional bem sucedida, solteira, daquelas que descem do carro sozinhas em uma balada e arrumam a franja antes de levantar a mão pra trás e trancar o carro no alarme. Mas não, ela cursa o segundo ano do ensino médio.
Após algumas brincadeiras, mesmo já sabendo, pergunto como ela conseguiu beber. Com uma pose de superioridade, e com um tom no discurso parecido com o daquelas pessoas que conseguiram um feito extraordinário e se gabam por terem sido “espertas”, ela me conta como se deu a compra das bebidas.
“É muito fácil. É só pegar o cartão dela (apontando para a amiga) e pegar, não tem problema não...”.
Sorrio da história, que mesmo me parecendo legalmente incorreta, ficou engraçada na voz da menina.
No final da noite, com a boate quase fechando, vamos à recepção pagar a nossa conta. Visivelmente “felizes”, as duas pagam o que consumiram. Se despedem de nós e vão embora.
Após verificar como é falho o sistema da boate, me questiono sobre o fato de não haver uma segurança mais brusca, ou algo que identifique de maneira mais clara os que não podem beber por serem menores.
Mas seria interessante pra boate dificultar o consumo, daqueles que, acredito, sejam um dos principais públicos de lá? Infelizmente o lucro é colocado acima da moral e das leis. Esse caso é somente um exemplo da irresponsabilidade que bares, casa de shows e etc. têm, quando o assunto é a preocupação com o público que consome ilegalmente bebidas alcoólicas. Não vi segurança em nenhum momento se manifestando na boate em relação a esta situação. Do mesmo modo que eu os vi quando eu entrei, os deixei quando sai: de braços cruzados e com roupa preta estilo “MIB”, e imóveis.
Ao sair da boate, entrego meu cartão de consumação e pergunto à atendente, no estilo de quem estava “desentendido”, como eles tinham certeza de que os menores não bebiam com o cartão de terceiros. Ela vira para mim, não com um olhar de quem tem poucos amigos, mas com aquele de quem não tem nenhum e arrogantemente, dispara: “55 REAIS!. Vai pagar em dinheiro ou cartão?”. (silêncio).
Cartão, digo.
Débito ou Crédito? Questiona ela, ainda em tom de superioridade.
Débito.
Só apresentar na saída próximo! Diz a atendente me entregando a liberação e chamando outra pessoa.
Uma coisa ficou clara naquele momento: O interessante para os proprietários da Bianco não é trabalhar honestamente e menos ainda, claro, desenvolvem uma atividade com a responsabilidade social devida. O que interessa é apenas o lucro!
Sexta-feira em Palmas, meia-noite. Chego na Bianco, a boate mais badalada da cidade. Por motivo de força “maior”, também conhecida como a intenção do dono de incitar aos que estão de fora a ideia de que a boate está cheia, uma fila gigantesca se forma da entrada até o estacionamento do lote vizinho. Muito bem acompanhado, coloco-me a esperar a minha vez de entrar para “curtir” a balada. Observo as moças e rapazes que também estão na fila. Todos bem arrumados, parecendo que apenas arrancaram a etiqueta e se vestiram. Aquele cheirinho de roupa nova os entregava.
Depois de um bom tempo na fila, chega a minha vez de entrar. Passo por todo o processo de “baculejo”, onde o segurança utiliza uma ferramenta para detectar possíveis metais escondidos nas pessoas. Quando o apetrecho é passado em mim ele apita. Olho com cara de medo para aquele homem que parece, literalmente, com um armário. O coração esfria. O segurança, confere. Foi só o cinto (ufa!). Sou liberado para ir até o balcão de identificação.
