O quê (Em) Basa o Meu Cotidiano
No dia-a-dia, nos deparamos com diversas situações, muitas das quais são surpresas, já outras habituais demais, porém, despercebidas. Então é mais um dia, como já de hábito, chego à estação de ônibus com muita pressa. Depois de um dia intenso de trabalho, meu rosto e corpo exalam cansaço. Sento-me em um pequeno espaço quase invisível no meio de dezenas de traseiros que ali se encontram desconfortavelmente a espera do famoso BASA (nome dado ao transporte coletivo que leva os alunos para a UFT). Sentada e calada, logo avisto ao meu redor pessoas nas mesmas condições que eu, apressadas e cansadas, talvez em condições um pouco piores, porque o único espacinho existente para sentar-se agora é meu.
O que interessa agora é acertar onde exatamente ele vai parar para entrar e conseguir um lugar para sentar. A tentativa da fila indiana é fracassada logo nos primeiros segundos, as laterais são atrativas e o empurra-empurra começa. Empurra daqui, coloca o pezinho ali, e pronto, enfim consigo subir no bendito ônibus com poltronas quase já todas ocupadas, acho o meu lugarzinho ainda na frente, até porque, para quem não sabe, as poltronas do fundo são as mais desejadas da “galera”. Alguns minutos são aguardados até todos estarem a bordo. Então o sinal verde aparece, o motorista acelera, penso, “É agora que finalmente chego à faculdade”. Seguimos...
O ônibus está lotado, como todos os dias, gente por todos os lados, de todos os estilos e de todas as raças. Agora sim, sinto-me uma jovem “embasada”, como me pediram os professores desde o primeiro dia de aula. O “zumzumzum” das conversas, o som alto do celular do “João” sem fone de ouvido, gente cantando junto e gente reclamando, as risadas nem um pouco discretas do grupo de amigos festeiros compartilhando suas histórias, os “autistas” que procuram lugares na tentativa de reservarem-se e procurar silêncio, os estressados que tiveram um dia cheio, os ‘intrusos” que pegam o BASA para irem ao shopping... Inclusive o passageiro curioso, que enquanto escrevo está aqui do meu lado entre uma virada e outra tentando bisbilhotar. O ambiente vai ficando cada vez mais abafado, o acúmulo de gente vai sufocando e as janelas abertas já não são o bastante para evitar a falta de ar em alguns segundos, o que me lembra muito uma sauna.
E é nesse balanço do “busão” que muitas coisas acontecem, a cada freada e a cada rotatória, um esbarro, um contato de pele com pele, um conhecer, um estressar. Após outras paradas responsáveis pelo aglomerado cada vez maior de passageiros, chega-se ao destino. E aquele ambiente quase íntimo chega ao fim. Uma correria para sair do ponto, uns encontram quem os esperavam, outros saem em rumo a suas salas depressa por estarem atrasados, outros vão se deliciar na lanchonete...
Realidade de quem tem que enfrentar todos os dias um transporte público, seja ele o BASA ou qualquer outro. Porém, vamos combinar né, como o famoso BASA é difícil de encontrar. Mesmo em meio a tanto desconforto nos deparamos com o aconchego de um percurso, lamentavelmente não tão fácil, mas “obrigatoriamente” essencial.