A SÍNTESE DA BELEZA
Loira, cabelos cacheados, 1,74 m de altura, bem distribuídos em 57 kg, de massa muscular, estrutura óssea, resíduos e apenas 5,7% deste peso, é gordura. Flexibilidade de contorcionista de circo, ICQ de uma modelo manequim, capacidade cardiovascular de um maratonista e 52 anos de boa forma.
Mary Dezem deveria estar num centro de recuperação para viciados em beleza, saúde e bem estar. Ela é adepta da atividade física, um conjunto de ações que um indivíduo ou grupo de pessoas pratica envolvendo gasto de energia e alterações do organismo, por meio de exercícios que envolvam movimentos corporais. É na academia que ela recarrega suas baterias, turbina seus músculos, alivia o stress, faz sucesso com sua disposição e coloca muita menininha no chinelo.
Mas neste ponto de encontro de marombeiros, sarados, aventureiros em busca de milagres, ela apesar de ser uma modelo de disciplina, força de vontade e persistência, é apenas mais uma.
Palmas tem cerca de vinte academias, que estão “bombando”, seja nas aulas em grupo ou nas salas de musculação. Sem falar nas praças e parques, movimentadíssimos.
“A grande procura se deve a dois fatores de suma importância. Saúde e beleza física. Quem procura beleza, consequentemente está adquirindo um melhor condicionamento físico e assim ganhando saúde. Já aqueles que fazem por saúde, automaticamente terão uma musculatura também exercitada e uma aparência melhor”, explica o personal trainer Frederico Martins de Oliveira.

Mary Dezem, há 15 dias, exibindo sua boa forma em Fortaleza-CE
E quando se procura os dois em excelência, o trabalho é dobrado. Essa “garota” segue, há 12 anos, seu plano: “Urruuuhhh, o que importa é a essência, mas vou caprichar na aparência”. Uma rotina tão elaborada que é capaz de dar desânimo em sedentários e náusea em paladares restritos. Porque exercitar-se só não basta, tem que se alimentar bem, e isso pra Mary é um ritual. Café da manhã rapidinho, daquele jeito de quem acorda atrasado para o trabalho, nem pensar. É um rodízio de frutas, aveia, leite, pão integral, mel, iogurte. Aí pronto. Está apta a dar início às atividades do dia. Até o almoço é correria, litros de água, com ou sem sede, mais uma fruta, castanhas, colágeno, betacaroteno. E pra sentar-se à mesa requer tempo. Primeiro um prato que mais parece uma horta, colorido como um jardim de flores diversas, aguado com azeite e adubado com queijo cottage. Mastigação lenta, pra dar uma adiantada na digestão, e só depois se delicia com a combinação de uma proteína (carne, peixe, frango), dois carboidratos (arroz, macarrão, batata) e meio copo de suco natural.
Volta aos trabalhos, uma barrinha de cereal no meio da tarde, um suco de couve, cenoura, abacaxi, linhaça dourada, quinoa e chia. Sessões de drenagem linfática e lá pelas 18h, um lanche, mais rico em carboidratos (pão branco, batata doce, uma massa), pra dar energia para as duas horas de rush na academia. Roupa apropriada, squezze, rabo de cavalo, treino (sequência dos exercícios a serem executados no dia) na mão e chega para ela uma das melhores partes do dia. Ela tem tanto gosto para as atividades que precisa ser controlada, se não, se acaba na esteira, se distrai no elíptico, faz aula de dança, um pouco de spinning : “Quero fazer abdominal pelo menos três vezes por semana, testou contrariada com minha barriga. Olha, é sério, tá grande aqui em cima!” reclama Mary.
O professor orienta: “Mary, 10 minutinhos, no máximo, só pra aquecer.” Vinte e cinco minutos depois, ele pergunta: “Mary, até agora?”, ela responde: ”Ah, queria fazer mais uns 15 minutinhos de elíptico”, reclama. Com muito esforço ela é levada para a musculação, o treino do dia é destinado aos glúteos. Ela faz todos os exercícios e séries e depois de mais de uma hora puxando ferro, pegando peso, ela ainda quer correr meia horinha.

Duas vezes por semana, vai para a Praça dos Girassóis, correr com colegas da academia. Uma caminhadinha para aquecer e geralmente é ela que puxa: “Vamos?”, diz animada. Dispara como se fosse uma competição de tiro: “Freia!”, alguém tem que segurá-la. Aí é prato cheio para os comentários admirados e bem humorados da turma, toda mais nova que ela: “Isso é uma máquina! Deixa ela chegar à nossa idade que ela vai ver!”, brincam os colegas.
Mary na sala de musculação
De volta para a casa, toma um suplemento, depois faz mais uma refeição leve, combinando proteína e carboidrato, sempre tem alguma coisa pra resolver, e aí é repouso, para recuperar, as energias e produzir GH ("growth hormone", hormônio do crescimento, produzido durante o sono profundo, que auxilia no ganho de massa muscular).
Esse ritmo, como se tivesse ligada a 220 volts é todo trabalhado na elegância, visual à altura, ela ainda arrasa no estilo e nas malhas da moda. Detalhe, não vive só pra isso, é mãe, administra uma clinica oftalmológica e também, a casa.
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“Quem procura beleza, consequentemente está adquirindo um melhor condicionamento físico e assim ganhando saúde. Já aqueles que fazem por saúde, automaticamente terão uma musculatura também exercitada e uma aparência melhor.”
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Esta rotina a deixa anos luz da pesquisa publicada na revista científica Lancet, do dia 18 de julho deste ano, que mostra que a população atual do Brasil gasta bem menos calorias por dia, do que gastava há 100 anos, o que explica porque o sedentarismo afetaria aproximadamente 70% da população do país, mais do que a obesidade, a hipertensão, o tabagismo, o diabetes e o colesterol alto. O estilo de vida atual pode ser responsabilizado por 54% do risco de morte por infarto e por 50% do risco de morte por derrame cerebral, as principais causas de morte em nosso país.
Assim a atividade física torna-se assunto de saúde pública, ganha espaço na mídia, e até vira moda. E esta onda arrasta também os jovens que estão de olho num melhor desenvolvimento físico, querendo ganhar saúde e mais ainda mostrá-la com um peitoral avantajado, bíceps e tríceps definidos, barriga de tanquinho e pernas de dançarina.
Mesmo com os recursos estéticos, cada dia, mais acessíveis, para ser bonito e saudável é preciso uma ajudinha da genética e muito movimento.