top of page

Onde está o seu preconceito?

Conhece a balada homossexual? Se não conhece, o que sentiria ao ser convidado a conhecer o “novo” ambiente? Certamente suas respostas responderão a pergunta feita no título. Pode ser que responda que já se acostumou com as cenas de afeto entre homossexuais ou que nunca teve preconceito. Mas, a realidade é que sair de sua comodidade e entrar em um ambiente cujas regras são até então desconhecidas, pode provocar as mais diversas sensações e reações. É aí então que você começa a descobrir-se tão liberal como diz.


Surgem pensamentos diversos: “Existe uma razão para as festas serem separadas, existe uma razão que explica o motivo de eu não querer freqüentar.”, disse Pedro Martins, 19 anos, estudante da Universidade Federal do Tocantins. O rapaz é um líder nato, possui uma personalidade única, no entanto costuma afirmar que não possui nenhum tipo de preconceito.

Pedro fez parte de um grupo formado para ir à única boate gay de Palmas, a The Cave. O principal objetivo da formação deste grupo era observar o comportamento de jovens aparentemente liberais e de personalidades diferentes dentro do “novo” ambiente.  Como? A ideia era perceber se o preconceito existia, mas isso observando as reações dos integrantes, já que segundo o que eles diziam não eram nada preconceituosos. Os demais componentes do grupo eram Ananda Carolina, 19 anos e Gilberto Augusto, 20 anos.


Havia um plano: passar na casa deles e de lá irmos em direção a Cave, tudo para desde o início captar as primeiras reações e principalmente os comentários. Cada detalhe mostraria se mesmo implicitamente o preconceito existia. E no caminho já pude confirmar que o pré-conceito estava presente, digo-o porquê de fato já havia uma pré-concepção acerca do que iam encontrar lá. Pedro disse várias vezes: “Tô ficando tenso véi, não acredito que vou fazer isso.” Reclamavam, demonstravam arrependimento por terem aceitado o convite, mas já estavam na porta e não seria ali que desistiriam.


Logo na entrada, ficou evidente que era um novo habitat e ao perceber isso os três começaram a se retrair, até esconder o rosto Pedro tentou, com medo de ser reconhecido. 
A boate é dividia em dois ambientes: um ambiente tipo pub e a “Gruta” como apelidei, é nesta Gruta que as festas rolam, o espaço é diferente, é como se fosse uma caverna mesmo, dá pra sentir o mistério e o segredo no ar. É como se ao passo que entrássemos ficássemos cúmplices do ambiente, dava até pra ouvir os olhares e o ar do local dizendo: “O que acontece aqui, fica aqui.”



Os frequentadores são os mais diversos, nem todos que ali estão são exatamente homossexuais. Mas uma coisa há em comum: todos os que frequentam buscam “liberdade e segurança”, como colocou muito bem João Paulo Assunção, heterossexual assíduo das baladas da Cave. Indaguei o motivo que fazia rapaz ir e participar do ambiente, já que existem outras boates na cidade e o “normal” é que ele não se sentisse tão bem e ficasse no mínimo retraído, como foi o caso do grupo convidado a ir à boate. A resposta de João Paulo foi simples:“Busco liberdade!” E é isso que se encontra na Cave, de fato.


Liberdade essa que pessoas não familiarizadas com o ambiente e com o tipo de música não conseguiam sentir. O grupo passou toda a festa sentado, mas Pedro estava intacto, nem sua feição mudava. Não por falta ou tentativa de “entrosamento”, mas parecia que tinha algo além, uma trava, até mesmo Ananda, a mais liberal dos três, estava tímida, não se sentia em seu ambiente. Mas, o que havia de tão diferente na festa? Além do grupo social, a qual não estavam acostumados existia algum motivo “físico” que fazia com que eles não se sentissem à vontade? Instiguei-me várias vezes e fui de encontro a quem aparentemente conhecia muito bem a casa.


Laira Pan é uma das DJS da Cave e na noite em questão estava vendendo bebidas. A garota aparentava conhecer bem a estrutura da balada e foi a ela que perguntei o que atraía a galera pra Cave e ela respondeu o que eu já esperava: “O que atrai as pessoas há baladas comuns, bebidas, atrações, boa música e por ser a única boate gay de Palmas, todos os fins de semana, a Cave é lotada.”, afirmou muito convicta. Ela detalhou também o que estava explícito, mas não explicado: as baladas gays contam com uma playlist diferente da balada hetero, as músicas contêm mais letra, o som é mais agressivo, mais marcado, pois as pessoas que freqüentam este tipo de local querem realmente se jogar, e começa aí a principal diferença entre as baladas, o que justifica o estranhamento de quem não conhece o local.


O Tribal House é o estilo preferido da galera. Foi no embalo deste ritmo então que pudemos presenciar a dança e o estilo das “desvairadas”, um grupo de lésbicas que com um teor a mais de álcool no corpo, dançavam, pulavam, gritavam e faziam gestos não muito comuns ao grupo visitante da noite. Como o objetivo principal da festa é oferecer às pessoas liberdade, este tipo de comportamento é super normal, tanto que ninguém além dos meus convidados se espantava.


As cenas de afeto homossexual eram novas para os meninos. “O que é isso? Você me paga.”, era a frase preferida de Pedro, que ao se deparar com algumas coisas já lançava logo aquele olhar de descontentamento. O grupo estava mesmo fora de sua realidade, mas para Pedro era diferente, se sentia ofendido por estar ali, a ideia já tinha perdido o sentido. “Não passo nem aqui na porta mais.”, dizia indignado.

Única Boate Homossexual de Palmas, The Cave

Diante de tudo que viam o jeito era continuar com o comportamento intacto, permaneciam sentados o tempo todo, e por duas vezes Pedro soltou: “Não sinto nem vontade de beber.” O que era muito anormal para ele. A insatisfação ficava no ar e era perceptível que a hora de ir embora havia chegado.


A noite continuaria para quem ficasse, mas a cota dos meninos já havia se esgotado, nos rostos a feição de quem não tinha se divertido era explícita. O jeito era ir para casa e guardar as experiências novas que o ambiente proporcionou. Saída discreta e rápida. Ainda na porta, Pedro disse que se tornaria frequentador assíduo, todos se entreolharam e deram aquela risada de quem tinha certeza que não passava de uma brincadeira.

Tentativa de intereção dos convidados a ir à Boate

© 2012 by Greg Saint. No animals were harmed in the making of this site.

bottom of page