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Os jingles políticos: aliados insubstituíveis

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Feira da 304 Sul: Ponto de encontro de candidatos

 

Mais uma belíssima e ensolarada manhã de sábado para descansar. Deitado na cama com o prazer de saber que vai dormir até mais tarde, uma tranquilidade reina absolutamente... ops! Promoção do supermercado, tomate a um real e oitenta e nove centavos, mas é só neste sábado. Tudo bem, já passou, agora só voltar a dormir. Mas antes te oferecem gás e água mineral. E o melhor, na porta da sua casa! Ah! E vão inaugurar uma lojinha de roupas com preço único de dez reais com festa de inauguração e um delicioso banquete! Sim, já imagino...


As propagandas em carros de som – além de atrapalhar o sossego de muita gente – são um excelente mecanismo de divulgação de bens e serviços. De certa forma, é bom para o comerciante, pois alcança um público maior, e bom – acredite - para quem ouve, que fica sabendo das promoções e vantagens de diversos serviços. Até aí tudo bem, está dentro da normalidade do cotidiano de diversas cidades brasileiras. Isso fora da época de campanhas políticas.


Surgem os famosos jingles, que são simplesmente músicas com letras temáticas, divulgando o nome do candidato, o número e o seu perfil. Em sua maioria, são paródias de músicas já consagradas ou que atualmente estão na “boca da galera”. É uma boa jogada do marketing político, que considera as músicas de sucesso um objeto de fácil penetração nos eleitores. É importante ser criativo? Não necessariamente. É só pegar a música “tche tcherere tche tche” e, ao invés de “Gusttavo Lima e você”, colocar “Chico da Feira pra vencer”, “Maria Porteira e você”, “35500 pra vencer”, e assim por diante.


Nem é preciso contratar um músico para elaborar uma letra em harmonia com o ritmo. Escreva alguma coisa que rime, pague 50 reais pro Israel Novaes, cover que canta no pub todas as terças-feiras, e grave. A verdade é que existem vários candidatos que fazem paródia de uma música só em apenas uma cidade. Michel Teló que o diga, se ele fosse cobrar os direitos autorais de candidatos que parodiassem o “Ai se eu te pego”, ele ficaria mais rico do que já é. Não é uma crítica negativa a esse tipo de gênero, mas é o processo mais óbvio a se fazer para chamar a atenção dos eleitores. É claro que não precisa de uma superprodução musical, afinal, essas músicas de campanhas só servem para tocar durante poucos meses.


É de fato que essas músicas “grudam” na cabeça. Das crianças principalmente. Perguntei a uma menina de 10 anos em quem ela votaria para prefeito, a resposta foi o candidato citado na música da Banda Calypso. Sendo assim, fiquei pensando. Uma simples música de campanha influencia na decisão do voto?


Na cidade de Rio Claro, estado de São Paulo, o candidato a vereador Thalisson - que rima com Pokémon - gravou uma paródia do tema desse desenho animado japonês. A criatividade em fazer uma paródia em cima de um clássico japonês resultou em quase um milhão de visualizações no YouTube. De certa forma, isso gera uma repercussão entre os eleitores. Se crianças votassem, Thalisson estaria eleito. Sendo assim, um eleitor que vota por causa de uma música teria uma mentalidade de criança?


Dentre os diversos locais em Palmas, a Estação Apinajé, principal estação de ônibus localizada no centro da cidade, é um dos locais mais fervorosos para se tratar de política. Um jovem cego de camiseta azul distribuía papeizinhos que pediam esmola, em contraste com uma candidata a vereadora, que passa apertando cada mão que aguardava o ônibus. Estas mãos que logo após receberem o santinho, arremessavam-no discretamente ao chão, causando uma imensa poluição visual de picadinhos brancos na estação, que por sinal já é bem famosa por ser imunda.


Pouco depois, surge um maltrapilho empurrando uma bicicleta com um vira-lata na cestinha. O pobre animal estava cheio de adesivos de campanha, e o velho gritava: “Pessoal, vamos acabar com essa panelinha, chega desses bandidos governarem Palmas!”. Enquanto isso, alguns se exaltavam e faziam um tímido sinal de “joinha” com as mãos, enquanto outros ocultavam o semblante com vergonha de tamanho absurdo. O velho então começa a cantar a música do candidato, e o vendedor de água de coco lhe dá uma tapinha nas costas. Em seguida, o velho sobe na bicicleta com o cachorro e some na fumaça do espetinho.


“Achei que já tinha visto de tudo”, comenta uma estudante universitária que estava sentada ao meu lado. Interessante como as músicas dos candidatos estão na boca da galera. Conseguiu empolgar um velho mendigo, que até decorou a letra da música. Minha mãe enquanto lavava louças cantava “Palmas agora é a nossa vez...”, e depois parava percebendo o descuido. Em meia hora, contei cinco músicas diferentes passando na porta de casa. A febre dessas musiquinhas podem não influenciar o voto, mas servem de combustível para empolgar uma grande massa de eleitores.


Mas será que uma simples música possui mais credibilidade que o próprio candidato falando? Na feira da 304 sul, pude presenciar um exemplo. Já não basta o grande movimento da sexta-feira à noite, alguns candidatos escolhem o local para encontros políticos. Diante do tumulto, viam-se donas de casa escolhendo laranjas, turistas maranhenses se deliciando nas barraquinhas de paçoca e um grande número de pessoas pagas para distribuírem santinhos.


Meu bolso já estava cheio, antes isso que jogar no chão. De repente, uma multidão se reúne em um dos corredores da feira ao redor de batucadas e bandeiras oscilantes. Um candidato a prefeito estava fazendo uma mini passeata pela feira e, junto de seus discípulos e “puxa-sacos”, apertava a mão de todos. Pensei comigo, deve ser um momento muito importante para ele, vai expor suas propostas de governo para uma multidão de feirantes e clientes. Só que não. Até o fim da mini passeata, o candidato não falou nem discursou nada, apenas se ouvia o coro dos discípulos cantando o seu jingle. Não bastou uma palavra de motivação, nem uma promessa almejada por todos. Me parece que a música já dizia tudo.


E assim deve ser todas as campanhas eleitorais. Animadas, divertidas e com fundo musical. Nada substituirá a música. Fale de suas propostas, mas depois solte a música. E para que não se esqueçam da música, solte-a na porta de suas casas em alto e bom som. Funciona? Sim, claro. Não tem jeito, sempre existirá um perfil de eleitor que receberá a música com bons ouvidos. Enquanto isso, aguardo ansiosamente o final da campanha política para voltar a ouvir apenas as imperdíveis promoções do supermercado no sábado de manhã.

 

© 2012 by Greg Saint. No animals were harmed in the making of this site.

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